O Tibor Moricz vem resgatando a história da Ficção Científica Brasileira em seu blog. Como ele postou por lá:
"Pretendo dar uma turbinada no meu blog, propondo um espaço diferente, dedicado à nossa FC&F. Biografias e entrevistas nos moldes tradicionais, apresentando ao fandom contemporâneo aqueles que ajudaram a construir as bases da nossa literatura de gênero.
Já li e escutei várias vezes que o que passou, passou. O que importa é o agora e o amanhã, em projeções futurísticas geralmente ególatras. Já li gente dizendo que nunca leu esse e aquele autor do passado e que não tem interesse nenhum em fazê-lo. Que esse e aquele trabalho de antigamente nada ou quase nada pode acrescentar ao que fazemos hoje.
Fico horrorizado quando leio e escuto coisas assim. Trata-se de flagrante desrespeito ao nosso gênero literário. Um comportamento desprezível. A literatura está acima de opiniões equivocadas como essas."
Seguindo este espírito, Tibor publicou o Manifesto Antropofágico da Ficção Científica Brasileira, escrito por Ivan Carlos Regina e publicado em 1988. Vá ao blogue de Tibor e leia os comentários.
O Manifesto vem a seguir:
"
MANIFESTO ANTROPOFÁGICO
DA FICÇÃO CIENTÍFICA
BRASILEIRA
MOVIMENTO SUPERNOVA
O homem foi até as estrelas para se encontrar e só achou o vazio, vazio, vazio.
Descobriu que no interior de todos os sóis se esconde a noite, e com ela sua inimiga ancestral, a escuridão.
São seus companheiros de viagem a morte, a dor, o riso, o sexo, a miséria, a alegria, o amor, o tédio, a solidão, a desesperança, o cansaço e a preguiça.
No cruzar da existência uma pirâmide de objetos inúteis: um forno de microondas, uma garrafa plástica, um quilo de éter, uma blusa de náilon, uma lâmina de barbear. Objetos do dia a dia.
Não propomos a dialética do povo mas a estética do novo.
O homem odeia o deus e ama o robô. Seu destino é destruir a perfeição e criar a aberração.
O totem foi a primeira máquina do homem.
Queremos ser uma explosão da forma e uma revolução do conteúdo. A supernova no céu do convencional.
A alegria e a prova dos nove.
A tecnologia e, em ultima instância, a tentativa neurótica do homem em substituir todos os seus componentes humanos por artificiais, criando um mundo onde ele seja o menos possível responsável.
Um boitatá de olhos de césio espreita no planalto central do país.
Ao lidar somente com a máquina, a ficção científica transforma-se num gênero de cenários, um arremedo de vaudeville, estéril e inconsequente.
Não viemos criticar a função da máquina mas propor a estética do homem.
Precisamos deglutir urgentemente, após o Bispo Sardinha, a pistola de raios laser, o cientista maluco, o alienígena bonzinho, o herói invencível, a dobra espacial, o alienígena mauzinho, a mocinha com pernas perfeitas e cérebro de noz, o disco voador, que estão tão distantes da realidade brasileira quanto a mais longínqua das estrelas.
A ficção científica brasileira não existe.
A cópia do modelo estrangeiro cria crianças de olhos arregalados, velhinhos tarados por livros, escritores sem leitores, homens neuróticos, literaturas escapistas, absurdos livros que se resumem as capas e pobreza mental, colônias intelectuais, que procuram, num grotesco imitar, recriar o modus vivendi dos paises tecnologicamente desenvolvidos.
A ficção científica nacional não pode vir a reboque do resto do mundo. Ou atingimos sua qualidade ou desaparecemos.
A produção literária brasileira, no gênero de FC, à exceção de reduzido rol de obras, é de uma mediocridade horripilante.
Uma mula sem cabeça cospe fogo radioativo pelas ventas.
Emulamos tecnologias sem conhecê-las.
Um Saci Pererê matuta, com uma prótese de vanádio, masca mandioca, tritura paçoca e arrota urânio enriquecido.
A alegria e a prova dos nove.
O homem prova, todo dia, que não é merecedor da tecnologia.
Queremos despertar o iconoclasta que jaz em todo peito brasileiro.
Morte aos adoradores de máquinas.
Um caipora verde amarelo devora hambúrgueres, destrói satélites, deglute armas e destroça tecnologias.
Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante.
SUPERNOVA
São Paulo, 1º ano após o desastre de Goiânia.
IVAN CARLOS REGINA
"
DA FICÇÃO CIENTÍFICA
BRASILEIRA
MOVIMENTO SUPERNOVA
O homem foi até as estrelas para se encontrar e só achou o vazio, vazio, vazio.
Descobriu que no interior de todos os sóis se esconde a noite, e com ela sua inimiga ancestral, a escuridão.
São seus companheiros de viagem a morte, a dor, o riso, o sexo, a miséria, a alegria, o amor, o tédio, a solidão, a desesperança, o cansaço e a preguiça.
No cruzar da existência uma pirâmide de objetos inúteis: um forno de microondas, uma garrafa plástica, um quilo de éter, uma blusa de náilon, uma lâmina de barbear. Objetos do dia a dia.
Não propomos a dialética do povo mas a estética do novo.
O homem odeia o deus e ama o robô. Seu destino é destruir a perfeição e criar a aberração.
O totem foi a primeira máquina do homem.
Queremos ser uma explosão da forma e uma revolução do conteúdo. A supernova no céu do convencional.
A alegria e a prova dos nove.
A tecnologia e, em ultima instância, a tentativa neurótica do homem em substituir todos os seus componentes humanos por artificiais, criando um mundo onde ele seja o menos possível responsável.
Um boitatá de olhos de césio espreita no planalto central do país.
Ao lidar somente com a máquina, a ficção científica transforma-se num gênero de cenários, um arremedo de vaudeville, estéril e inconsequente.
Não viemos criticar a função da máquina mas propor a estética do homem.
Precisamos deglutir urgentemente, após o Bispo Sardinha, a pistola de raios laser, o cientista maluco, o alienígena bonzinho, o herói invencível, a dobra espacial, o alienígena mauzinho, a mocinha com pernas perfeitas e cérebro de noz, o disco voador, que estão tão distantes da realidade brasileira quanto a mais longínqua das estrelas.
A ficção científica brasileira não existe.
A cópia do modelo estrangeiro cria crianças de olhos arregalados, velhinhos tarados por livros, escritores sem leitores, homens neuróticos, literaturas escapistas, absurdos livros que se resumem as capas e pobreza mental, colônias intelectuais, que procuram, num grotesco imitar, recriar o modus vivendi dos paises tecnologicamente desenvolvidos.
A ficção científica nacional não pode vir a reboque do resto do mundo. Ou atingimos sua qualidade ou desaparecemos.
A produção literária brasileira, no gênero de FC, à exceção de reduzido rol de obras, é de uma mediocridade horripilante.
Uma mula sem cabeça cospe fogo radioativo pelas ventas.
Emulamos tecnologias sem conhecê-las.
Um Saci Pererê matuta, com uma prótese de vanádio, masca mandioca, tritura paçoca e arrota urânio enriquecido.
A alegria e a prova dos nove.
O homem prova, todo dia, que não é merecedor da tecnologia.
Queremos despertar o iconoclasta que jaz em todo peito brasileiro.
Morte aos adoradores de máquinas.
Um caipora verde amarelo devora hambúrgueres, destrói satélites, deglute armas e destroça tecnologias.
Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante.
SUPERNOVA
São Paulo, 1º ano após o desastre de Goiânia.
IVAN CARLOS REGINA
"