Projeto Portal foi uma revista de contos de ficção científica com periodicidade semestral, editada no sistema de cooperativa durante os anos de 2008 e 2010. A pequena tiragem — duzentos exemplares de cada número — foi distribuída entre acadêmicos, jornalistas e formadores de opinião. Seis números (de papel e tinta, não online). O título de cada revista homenageou uma obra célebre do gênero: Portal Solaris, Portal Neuromancer, Portal Stalker, Portal Fundação, Portal 2001 e Portal Fahrenheit.


Idealização: Nelson de Oliveira | Projeto gráfico e diagramação: Teo Adorno
Revisão: Mirtes Leal e Ivan Hegenberg | Impressão: LGE Editora

sexta-feira, 22 de abril de 2011

(A descoberta do) Brasyl





(Uma resenha antiga de Jacques Barcia para o romance Brasyl (2007), de Ian McDonald)

"Vidas paralelas, tempos paralelos, universos paralelos. E um só país. Ou não. Em Brasyl, o escritor escocês irlandês Ian McDonald abre uma janela para três paisagens distintas: uma futurista, reminiscente da tradição cyberpunk; outra contemporânea, um eco dos noticiários e da febre dos reality shows; e, por fim, uma no passado, em uma selva misteriosa e predadora, um mundo independente dentro de uma colônia. Ligando esses três universos tão distantes e, ao mesmo tempo tão próximos, a física quântica, suas possibilidades e suas conseqüências.

O livro conta a história de três personagens separados pelo tempo e pelo espaço. No Rio de Janeiro de 2006, Marcelina Hoffman é uma produtora de TV especializada em reality shows à procura de Barbosa, o goleiro da seleção na fatídica final de 1950, quando o Brasil perdeu para o Uruguai em pleno Maracanã. Na São Paulo ultra vigiada de 2032, o empresário e malandro Edson Jesus Oliveira de Freitas tem sua vida virada de cabeça para baixo depois que se vê envolvido com uma garota, membro de uma gangue de quantumeiros, físicos que usam computação quântica ilegal para quebrar todo tipo de código. Já na Amazônia de 1732, o padre Jesuíta Luís Quinn caça, em nome da Igreja e da Coroa Portuguesa, um outro padre que estaria criando sua própria teocracia no coração da selva. E em meio a tudo isso, duas conspirações que atravessam a parede entre as realidades: uma tenta manter o segredo do multiverso, enquanto outra tenta escancarar as realidades como único meio de salvá-las.

Mas Brasyl é bem mais que isso. É um livro que faz jus ao título que a Ficção Científica conquistou: a de última representante da literatura de idéias. E justamente por isso, Brasyl não é um livro fácil, muito menos um livro de Ficção Científica convencional.

No livro, McDonald constrói, nas três linhas narrativas, três discussões: a quantidade de vidas que um único indivíduo pode comportar, a quantidade de paisagens e sociedades que um país pode ter e, finalmente, o número de mundos diferentes cabem no universo. É um passeio, do micro ao macrocosmo, sobre a natureza da identidade. É um livro sobre filosofia, física e a natureza da realidade. Sobre escolhas, segredos e máscaras. É um livro sobre um país que nunca foi e talvez nunca será. Sobre realidades paralelas, mas focado nas suas semelhanças, não nas diferenças."

(Para ler a resenha completa, clique AQUI. )




Vale também dar uma olhada na "bronca" que Fabio Fernandes deu aos Escritores brasileiros depois de ler Brasyl: "Quem não faz, leva" (artigo também de 2007) - AQUI - Trecho a seguir:

"O livro se passa nas ruas de Copacabana, dentro de emissoras de TV (as referências a jornais, canais de TV e outros detalhes de cor local são nota 9,5 – um errinho de ortografia aqui e ali, mas tudo bem), nas raves de Sampa, nos morros cariocas e no Norte-Nordeste do Brasil-Colônia. O livro é daqueles que fazem a gente ficar pensando: se um escocês conseguiu escrever sobre isso, por que diabos um brasileiro não escreveu isso ainda?

Também não sejamos espíritos-de-porco. Já dizia Tom Jobim que o brasileiro tem inveja do sucesso alheio. Desse mal não sofro: Ian McDonald é um tremendo escritor, quase do tipo que eu gostaria de ser quando crescer. Provas para decidir no tapetão? Livros como a excelente novela cyberpunk “Scissors Cut Paper Wrap Stone”, ou a série “Chaga”, ambientada na África. McDonald gosta de escrever sobre o Outro, sobre aquilo que está fora de seu território original de experiência. E não é disso que a ficção científica trata ou deveria tratar?

E também não sejamos injustos: se existiu no Brasil um livro relacionado à ficção científica que conseguisse falar de Brasil sem resvalar no folclórico ou no exótico (embora seja rico em sátira), esse livro é o esgotado mas nunca esquecido “Santa Clara Poltergeist”, de Fausto Fawcett. Tirando Santa Clara, e mais um punhado que pode ser contado numa das mãos de alguém que perdeu uns dedos com rojão de festa junina, não existe um livro de ficção científica brasileiro que trate de Brasil com brasilidade."



P R O J E T O P O R T A L B L O G F E E D