Projeto Portal foi uma revista de contos de ficção científica com periodicidade semestral, editada no sistema de cooperativa durante os anos de 2008 e 2010. A pequena tiragem — duzentos exemplares de cada número — foi distribuída entre acadêmicos, jornalistas e formadores de opinião. Seis números (de papel e tinta, não online). O título de cada revista homenageou uma obra célebre do gênero: Portal Solaris, Portal Neuromancer, Portal Stalker, Portal Fundação, Portal 2001 e Portal Fahrenheit.
Idealização: Nelson de Oliveira | Projeto gráfico e diagramação: Teo Adorno
Revisão: Mirtes Leal e Ivan Hegenberg | Impressão: LGE Editora
Revisão: Mirtes Leal e Ivan Hegenberg | Impressão: LGE Editora
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Depoimentos de autores do Portal Solaris
Extraído do antigo blog do Mayrant Gallo
"Não há diferença entre realidade, imaginação e sonho. Para o cérebro humano é tudo a mesma coisa. Por isso, não separo minha literatura em rótulos. O que realmente importa é buscar a perfeição, seja na FC, na literatura fantástica, ou na literatura a-vida-como-ela-é. Vivemos um momento especial da literatura nacional, mas instável. Muita publicação, pouca leitura. Muita festa, pouca reflexão. Chega de bossa-nova, a literatura quer delírio! No livro O lobo da estepe', do escritor Hermann Hesse, há um letreiro que chama a atenção do protagonista: SÓ PARA OS RAROS; como também o subtítulo do folheto O tratado do Lobo da Estepe: SÓ PARA LOUCOS. Portal Solaris é isso, uma revista só para os raros... só para loucos."
Homero Gomes
"Acho que o melhor da ficção científica – por exemplo, Bradbury, Huxley, Orwell, Dick – vai muito além dos clichês e atinge o patamar da alta literatura. Do mesmo modo, Márcia Denser e Henry Miller fazem muito mais do que literatura erótica, Rubem Fonseca não faz apenas romance policial, nem Edgar Allan Poe escreve terror para assustar criancinhas."
Ivan Hegenberg
"Entrei neste mundo viajando pelo espaço sideral, já que, como muitos garotos de minha geração, crescendo nos anos 60 e 70, era de foguetes e espaçonaves que era feita minha imaginação. Com os pés no chão literário, porém, descobri outras possibilidades. Estudei "creative writing", fiz workshop na terra dos romances feitos com receita, escrevi dois deles em inglês, cansei. Hoje a originalidade do meu texto vem desta influência toda, sem dúvida alienígena."
Ataíde Tartari
"Na minha opinião, salvo raríssimas exceções a linha principal da nossa literatura não conseguiu apresentar nada de novo, nada de vivo, nos últimos dez anos. Livro após livro as mesmas formas e os mesmos conteúdos têm sido revisitados monotonamente por centenas, milhares de estreantes e veteranos. Acredito que a mistura de gêneros e linguagens é a melhor maneira de melhorar essa situação. A ficção científica, gênero riquíssimo em novos assuntos e instigantes desafios da linguagem, precisa ser descoberta pela linha principal da literatura brasileira. E vice-versa. Penso que o Projeto Portal tem tudo pra ser um passo seguro nessa direção."
Luiz Bras
"Muito me encanta aquela literatura inventiva, criativa, poética, que transcende a mera descrição, narração ou exacerbação realista. No entanto, em pauta hoje, no Brasil, estão uma literatura ultra-estilista ou ultra-realista, que se volta ora para si mesma ora para a realidade sobretudo urbana, em sua pretensão ingênua de descrevê-la, entendê-la ou explicá-la. Sendo assim, Portal Solaris, uma vez que se propõe a ser uma revista de Literatura Fantástica e Ficção Científica, é de suma importância para conhecer o que vem sendo feito de diferente e criativo na literatura brasileira contemporânea."
Rogers Silva
"O que me parece que vai resultar de mais fundamental nesse ajuntamento de autores de uma mesma tendência estético-literária num projeto editorial comum é a criação de um novo continente literário no Brasil, Afinal, por não se demonstrar unificado, esse continente ainda não "existia", não ressoava seus contornos, conteúdos abissais, não se auto-gerara, permanecia fragmentado, composto de ilhas loucas sem pontes ou navegações entre elas. Desconectados, seus habitantes, individualizados demais, vivíamos nas ilhas escrevendo sozinhos como náufragos e nem tínhamos garrafas estelares como este Portal Solaris para enviar mensagens pelo mar. Agora, com essa iniciativa do Nelson de Oliveira, podemos até pensar em um manifesto, em uma carta de princípios, alguma coisa que desse fundamento, colagem semântica a esse, de fato, notável acontecimento literário. Acho que, sem querer, pela força demasiada da inércia em que vivíamos, o pêndulo agora oscilou no sentido do movimento, da ação. Nós, os patinhos feios da literatura brasileira, escritores criadores de todo esse lado da fantasia, do numinoso, da ficção de antevisão, das novas visões e dimensões, dos temas quase impossíveis, da ficção do imagináriio, da ficção científica e também da ficção estética (uma variante da ficção científica que penso ter inventado em 1988), somos uma alternativa ilimitada ao neo-naturalismo limitado que se apoderou da realidade, que grasna e prolifera totalitário-midiático."
Carlos Emílio C. Lima
"Sou um aficionado do conto fantástico, que já fez parcerias geniais com a ficção científica. É o caso do meu autor preferido no gênero, Ray Bradbury, autor de um livro extraordinário: Os frutos dourados do sol. Bradbury vai muito além de meros recursos imaginativos associados a um conhecimento científico. O fantástico, nele, é potencializado pela linguagem poética, pelo domínio da linguagem expressiva. É, portanto, literatura de alta qualidade. E é justamente isto que sinto falta na maior parte da Science Fiction: textos que nasçam de um impulso profundo, como todas as grandes obras artísticas, e não frutos de uma mera engenhosidade. Daí o entusiasmo com o qual recebi a proposta de Nelson de Oliveira de criação dessa revista que tem como proposta justamente isto: unir os recursos da ficção científica com a alta literatura, buscando uma renovação do gênero entre nós."
Carlos Ribeiro
"Mais do que entretenimento, sience fiction é reflexão. Permite que, através de um simples deslocamento, possamos refletir sobre o nosso meio e o nosso tempo, exarcebando idéias, sentimentos, sonhos, utopias, medos. Se uma fatia dos leitores, os falsos-realistas, se incomoda é porque é difícil conviver com a ausência de máscaras. A idéia de fim de mundo (uma fixação da ficção científica), por exemplo, não seria ao mesmo tempo pesadelo e alerta? Logo, a FC tem um duplo alcance: nos permite sonhar e nos faz amargar o que somos, seres irresponsáveis."
Mayrant Gallo