Projeto Portal foi uma revista de contos de ficção científica com periodicidade semestral, editada no sistema de cooperativa durante os anos de 2008 e 2010. A pequena tiragem — duzentos exemplares de cada número — foi distribuída entre acadêmicos, jornalistas e formadores de opinião. Seis números (de papel e tinta, não online). O título de cada revista homenageou uma obra célebre do gênero: Portal Solaris, Portal Neuromancer, Portal Stalker, Portal Fundação, Portal 2001 e Portal Fahrenheit.


Idealização: Nelson de Oliveira | Projeto gráfico e diagramação: Teo Adorno
Revisão: Mirtes Leal e Ivan Hegenberg | Impressão: LGE Editora

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Nilto Maciel e o Portal 2001




Nilto Maciel, escritor, poeta, editou a revista Literatura. Tem contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. Seus livros estão publicados por pequenas editoras de Fortaleza, São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Florianópolis, Brasília e Campinas. Em um de seus endereços, o blog "Literatura sem fronteira", Nilto escreveu uma postagem a respeito da Ficção Científica e suas opiniões a respeito do Portal 2001.

Abaixo um trecho:


"
Mas o que é ficção científica? Para Wilson Martins, “A chamada ficção científica, que não é ficção nem científica, tampouco alcança os planos da literatura porque nela a função catalítica do estilo é, por definição, posta à margem como desprezível”. Pois Tibor Moricz (que não tem o prestígio do intelectual considerado por muitos como o último crítico brasileiro por excelência), em “Gênero X Mainstream”, faz a seguinte observação: “A novela A invenção de Morel, do Bioy Casares, foi desde o início tida como uma obra artística perfeitamente canônica, de um dos maiores autores argentinos. Mas de uns tempos pra cá, e cada vez mais, tem gente dizendo que ela é, também, uma obra de ficção científica. O Poe, por exemplo, no início, quando ainda era vivo, andando bêbado pelas ruas da Filadélfia em busca de um trago, era mais um escritor de gênero (não havia ainda essa concepção naquela época, mas era isso o que ele era) e depois da sua morte, e a partir da importância que Baudelaire deu a ele na França, traduzindo seus textos e escrevendo ensaios sobre ele, promovendo seu nome, passou cada vez mais a ser um mestre da Literatura com “L” maiúsculo, respeitado e incontestado, até ser completamente deglutido pelo Cânone.



Essa mudança de status se dá ao longo do tempo. Assim como A invenção de Morel (Bioy Casares) “desceu um degrau”, Poe subiu. Edifício literário como o de Uilcon Pereira, por exemplo, alcançará algum dia o Cânone? Ou ficará no limbo: nem popular, nem canônico?"



Os males ou os defeitos da ficção científica, o que a afasta do Cânone assim como do mainstream, sua pobreza (como um todo, ressalvadas as peças mais louvadas pela crítica), assim como (em menor grau) da literatura fantástica, sua penúria talvez esteja no distanciamento que o narrador guarda (nelas) de seus semelhantes, dando mais ênfase a objetos (máquinas, naves, etc.), ao espaço sideral e viagens pelo Cosmos, em detrimento dos problemas pessoais (humanos) dos personagens. O leitor se vê diante de seres sem estofo, ocos, quase máquinas, “sem alma”, sem sentimentos, inumanos. Em consequência, a trama foge dos seres e suas ações e sentimentos para se voltar para o espaço, as coisas (espaçonaves), medidas, velocidade, etc. A ação é desvinculada do humano, dos dramas psicológicos. Só mesmo escritores mais criativos conseguem fazer com que a “coisa” sobrenatural e o espaço de atuação do alienígena ou do ser irreal não substituam a pessoa, como na literatura fantástica (o Horla, de Maupassant) ou em José J. Veiga (a estranha máquina extraviada).



Porém, à medida que os cultores desse gênero se aproximam dos modelos da literatura canônica (Casares, Poe) – pela técnica e pelo tratamento literário dos temas, das tramas, etc.), sua “ficção científica” se revela como ficção, como literatura e perde o rótulo renegado pelos acadêmicos e críticos.
"

(Ilustração de Dan McPharlin)


P R O J E T O P O R T A L B L O G F E E D