Projeto Portal foi uma revista de contos de ficção científica com periodicidade semestral, editada no sistema de cooperativa durante os anos de 2008 e 2010. A pequena tiragem — duzentos exemplares de cada número — foi distribuída entre acadêmicos, jornalistas e formadores de opinião. Seis números (de papel e tinta, não online). O título de cada revista homenageou uma obra célebre do gênero: Portal Solaris, Portal Neuromancer, Portal Stalker, Portal Fundação, Portal 2001 e Portal Fahrenheit.


Idealização: Nelson de Oliveira | Projeto gráfico e diagramação: Teo Adorno
Revisão: Mirtes Leal e Ivan Hegenberg | Impressão: LGE Editora

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Incal



O desenho nunca foi produzido integralmente, apenas algumas cenas foras realizadas.

Trecho de uma entrevista de Jodorowsky na revista sobre cinema Contracampo (2007; Íntegra AQUI)

"
Justamente, você se exprimiu em numerosos domínios artísticos diferentes, da mímica aos HQs: qual é a sua abordagem do cinema enquanto mídia específica? O que ele lhe permitiu fazer ou não fazer?

Cada arte tem o seu domínio de expressão próprio; então não é que ele permite fazer o que não se pode fazer em outro lugar. Quando eu faço cinema, é apaixonante; mas quando escrevo um poema, também é inteiramente apaixonante. São meios de expressão diferentes, com temáticas diferentes.

Mas, você se sente mais livre em certos domínios, como nos HQs? Quando você escreve O Incal, você tem menos constrangimentos?

Não, o domínio mais livre é a poesia. Pois aí, você está totalmente sozinho. O que também é válido para o romance. Já nas HQs é diferente, você deve dialogar com um desenhista. No cinema é muito mais difícil. É uma guerra, e se você quiser impor a sua visão, você pode deixar aí a sua saúde, a sua vida. Todo mundo tem a sua idéia do filme, e aí você negocia com comerciantes, políticos. É verdadeiramente difícil.

Você se lamenta de algo? Das idéias não realizadas? Evidentemente, se pensa em Duna.

Eu não tenho lamentos. Meus filmes não são certamente o que eu quis fazer, mas o que eu pude fazer. O máximo do que eu pude realizar. As coisas seriam diferentes se eu tivesse $100.000.000, mas eu jamais os terei. Então, eu me contentei em fazer o que pude.

Em Constelação Jodorowsky, Moebius faz um comentário interessante: "era a preparação de Duna o que era importante, o sonhar, buscar as idéias. Mas, o fato de não ter sido filmado não é muito grave."

É verdade, mas o filme, ele existe, ele está lá (aponta a coletânea de storyboards sobre uma estante). Você fala de lamentos. Mas, eu posso te dizer: eu tenho quatro filhos. Um deles morreu. Não existe nada mais terrível do que enterrar um filho. Porém, se faz o luto, não se pode ficar bloqueado, é preciso continuar a viver. Duna é como a morte de um filho. É um choque. É fazendo outra coisa que se sobrevive a isso."

Trechos de uma entrevista antiga (2007) de Jodorowsky por Mario Abbade (completa AQUI)

"AlmanaqueVirtual": Porque a sua versão do "Duna" não deu certo?

Alejandro Jodorowsky: Eu trabalhei dois anos nessa produção. Eu reuni profissionais como Moebius, H.R. Giger, Orson Welles, Pink Floyd, Mick Jagger, Salvador Dali, Alain Delon, Geraldine Chaplin, entre outros, para o projeto. Mas os distribuidores queriam um blockbuster e não um filme reflexivo. Por isso boicotaram o projeto. Ironicamente, muito dos profissionais que estavam envolvidos na produção, depois trabalharam em outros filmes de ficção cientifica, como "Star Wars" e "Alien". Eles aproveitaram conceitos que foram desenvolvidos para o meu projeto sobre "Duna". Eu tinha até um produtor francês, mas para recuperar o investimento, precisávamos dos distribuidores.

AV: E acabou que o "Duna" feito pelo cineasta David Lynch também não deu certo.

Alejandro Jodorowsky: A culpa não foi de David e sim dos De Laurentiis, que eram os produtores. Eles assassinaram o filme de Lynch. Um produtor tem a capacidade de destruir um projeto de um cineasta.

AV: A frustração desse projeto causou alguma decepção com a sétima arte?

Alejandro Jodorowsky: Não, mas acabei me dedicando aos quadrinhos. No final foi ótimo para mim. Tenho um imenso prazer de trabalhar com quadrinhos"

(...)

"AV: Nos quadrinhos, algum projeto novo?

Alejandro Jodorowsky: E como tenho. São dezenas de projetos com artistas talentosos e reconhecidos. Um exemplo é Incal, que teve o primeiro, depois fizemos o "Antes do Incal" e agora vai ter o "Depois do Incal".

AV: Com certeza nesses projetos não existe algum com um super-herói norte-americano. Pergunto isso, pois você desenvolveu o "Incal" com Moebius, e ele já desenhou os super-heróis da Marvel.

Alejandro Jodorowsky: Moebius é um prostituto (risos). Basta lembrar o que ele fez no caso do "5º Elemento", do diretor Luc Besson, que foi plageado do "Incal" e mesmo assim, Moebius aceitou trabalhar com Besson. Botaram muito dinheiro e ele não se importou de trabalhar com ele. E meus super-heróis são bem diferentes dos criados nos Estados Unidos. Seus heróis fazem parte de sua cultura imperialista.

AV: Você acha que o destino dos Estados Unidos será o mesmo do Império Romano?

Alejandro Jodorowsky: Acredito que sim. Acho que eles ainda vão implodir. Mas eu não gosto de falar sobre política. Mas posso dizer que os Estados Unidos é uma nação que está constantemente em guerra. Lutaram contra os nazistas e japoneses, depois vieram os coreanos e vietnamitas. Depois teve a Guerra Fria com os russos. Depois foi a vez da China ser o perigo. No começo da guerra contra o Iraque, os franceses eram o inimigo, pois não concordaram com a guerra. Atualmente é a guerra contra o islã. São todas guerras econômicas. E no futuro, quem o império norte-americano vai lutar? Vai ser contra os alienígenas. Eles nos vem preparando para isso. O cineasta Steven Spielberg é o clone da política internacional americana. No começo de sua carreira, ele era a favor dos alienígenas, posso citar "Contatos Imediatos do 3º Grau" e o "ET". Atualmente, ele é contra. A grande maioria das produções hoje em dia é contra os alienígenas. São retratados como invasores cruéis. Uma idiotice. Por que um outro povo viria para cá, com o objetivo de nos destruir. Isso é uma loucura. Com a descoberta de planetas semelhantes ao nosso, fica a certeza de possa ter vida nesses lugares. Com certeza, os Estados Unidos irá pedir uma união de todos as nações na Terra para ficarem contra os povos de outros planetas. Isso é uma característica básica de uma nação imperialista. Não tem como não pensar em "Star Wars" e no Império. Por que construir bases na Lua? Por que ir até Marte? A explicação reside nessa necessidade imperialista norte-americana."


P R O J E T O P O R T A L B L O G F E E D