Projeto Portal foi uma revista de contos de ficção científica com periodicidade semestral, editada no sistema de cooperativa durante os anos de 2008 e 2010. A pequena tiragem — duzentos exemplares de cada número — foi distribuída entre acadêmicos, jornalistas e formadores de opinião. Seis números (de papel e tinta, não online). O título de cada revista homenageou uma obra célebre do gênero: Portal Solaris, Portal Neuromancer, Portal Stalker, Portal Fundação, Portal 2001 e Portal Fahrenheit.


Idealização: Nelson de Oliveira | Projeto gráfico e diagramação: Teo Adorno
Revisão: Mirtes Leal e Ivan Hegenberg | Impressão: LGE Editora

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Impressões Portal Fundação



Wilson, do Fórum Meia Palavra, dá suas impressões do Portal Fundação


"Entende-se que toda história se origina de um conflito. Os 27 contos apresentados na coletânea de ficção científica Portal: Fundação, aproveitam-se desse princípio, e usam da liberdade criativa permitida pelo gênero (extrapolando-o quando necessário), para nos trazer histórias nascidas de embates que sempre se repetiram pela história e sempre continuarão a se repetir: o homem vs. a máquina, o homem vs. o alienígena, o homem vs. ele próprio. Na mão de bons autores, no entanto, a imaginação não permite ao leitor se entediar em lugares-comuns. O principal mérito dos coordenadores foi agrupar contos tão díspares em conteúdo quanto em forma.

Três contos em particular me chamaram a atenção (tudo bem, quatro). Em primeiro lugar, Veja seu futuro, de Ataíde Tartari, trabalhando com uma das premissas mais instigantes da ficção científica que é a viagem no tempo, apresenta tudo aquilo que se pede de uma boa história, levando a obsessão de seu protagonista em procurar saber seu futuro a um final que não tanto surpreende o leitor, mas, num resumo da temática que se repete ao longo dos demais contos, o carrega inevitavelmente a um final, um final em aberto, como deve ser o de todas as boas histórias, que se prolongue nos meandros internos do leitor, mas que ofereça à história em si um sentido de unidade. Cheiro de predador, de Roberto de Sousa Caruso, une duas temáticas que me são muito caras, que é a ficção científica a um enredo policial, ou pulp, ou pop, seja como for, que traz a figura enigmática de uma assassina em busca de cumprir sua missão. Esses dois contos estão na primeira parte da antologia, onde o foco está mais na trama, ao contrário da segunda parte, em que o experimentalismo com a linguagem torna-se o foco dos autores; meus dois contos favoritos são aqueles que conseguem unir essas duas ambições - são eles: O desenvolvimento insustentável do ser, de Laura Fuentes, que, em episódios curtos que pulam décadas e séculos na linha do tempo, espelha o progresso tecnológico do homem a um processo constante de isolamento, enxergando numa visão negativista o avanço tecnológico como alavanca à desumanização e à solidão; e Sob as Sete Luas de Sirena, de Luiz Roberto Guedes, com um certo apelo filosófico ao retratar a vida solitária de um homem responsável por nomear mares, montanhas, etc., em um planeta alienígena, e que nos envolve por completo em suas descrições, usando de uma prosa bem rebuscada."


(Imagem VIA)


P R O J E T O P O R T A L B L O G F E E D